Cuba - e Havana, claro - estavam nos meus planos há muito tempo. Para ele foi uma repetição, mas um pouco mais completa. Para mim, foi o descobrir de uma cidade cheia de vida, cor e música ao vivo em cada esquina. O que podemos pedir mais?
Partimos para Cuba em Dezembro de 2017 com várias cidades no nosso plano, da qual Havana foi a primeira. Como primeira, teve a honra de me dar a conhecer o povo Cubano, e o peso de toda a expectativa em cima. Quanto a expectativas, não foram minimamente defraudadas. E isso permitiu-me ficar ainda mais apaixonada com o que vi de Cuba depois de sair de Havana. Por não termos muito tempo para dedicar a Havana e porque ele, como já referi, já lá tinha estado, preferimos conhecer a cidade mais a fundo. Por isso, concordámos de imediato quando Yoander, o guia que nos ajudou a organizar esta viagem, nos sugeriu uma visita guiada por Havana com alguém da sua equipa. Não se assustem já com os termos "visita guiada". Se nos seguem, sabem que não somos de recorrer a tours organizadas e impessoais para as nossas viagens e que isso está, 99%, fora de hipótese connosco. No primeiro dia em Havana a Daily, do grupo YOANDO (o grupo turístico gerido pelo Yoander) foi ter connosco ao Alojamento Local em que ficámos e saiu connosco, a pé, pela cidade. O passeio foi completamente informal e, durante todo o tempo, sentimo-nos como se estivessemos simplesmente a passear pela cidade com uma amiga. Percorremos os principais pontos turísticos, outros menos turísticos, percorremos lojas e supermercados destinados apenas aos locais e todo o percurso foi personalizado com o que fomos mostrando preferir. Além disso, os vários quilómetros que fizemos foram acompanhados de uma boa conversa, sobre os mais variados temas. Adorámos e recomendamos MUITO!
Mas passemos ao roteiro em si, que é isso que vos traz por cá... O primeiro ponto foi, talvez, algumas das imagens mais cliché. Começámos no Capitólio (em obras de recuperação para o Centenário da cidade), feito à medida do Capitolio americano, que foi sede do Governo Cubano após a revolução Cubana em 1959. Chegou a ser o edifício mais alto da cidade e a terceira maior casa parlamentar do mundo.
Mesmo em frente, encontram o lindíssimo edifício do Cinema Payret, que neste momento se encontra abandonado. O cinema deixou de estar em funcionamento há menos de cinco anos e não há um novo destino para o seu espaço, pelo que todo o prédio se encontra à mercê do tempo. Por todo o nosso percurso, encontrámos vários edifícios - dos mais simples aos mais imponentes - nesta situação, à espera de um novo rumo e de um pouco de atenção.
Na esquina contrária, o Grand Teatro de La Habana. Este Teatro é casa do Ballet Nacional Cubano e alberga os mais variados espectáculos, desde ballet a canto lírico, e também exposições.
É também nesta zona que encontram as famosas casas coloridas que fazem fundo a tantas fotografias tiradas em Havana. São, realmente, fotogénicas!
Por trás da zona do Capitólio encontramos a entrada para o Bairro Chino. Apesar de a comunidade chinesa em Cuba já não ser representativa como foi em tempos, as marcas da sua passagem são inegáveis e é aqui que as podem encontrar.
Mesmo ao lado, a mais antiga fábrica de charutos - los puros - cubanos, a Partagas. Além da loja no piso inferior, nada no edifício está em funcionamento. Mas diz-se que está a ser restaurada para, mais tarde, além do Museu, albergar também uma pequena fábrica no último piso. Podem entrar na loja e ver, além de variadíssimas marcas de charutos, alguns utensílios utilizados. A entrada é gratuita, e é um dos locais mais recomendáveis para comprar charutos.
Com isto, já vimos imensas coisas, mas ainda nem saímos do mesmo quarteirão. Cuba é assim, cheia de surpresas a cada esquina. E na esquina do Gran Teatro de La Habana, começa o Paseo de Martí, mais conhecido como Paseo del Prado. Esta rua larga, com um passeio cheio de árvores e bancos, é o sítio perfeito para um passeio descontraído, para observar as casas e para ver artistas cubanos a venderem os seus quadros e artesanatos. Aos sábados de manhã, dia em que a visitámos, há também um mercado de imobiliário. Ou seja, reunem-se aqui todas as pessoas que têm casas para arrendar ou vender, juntamente com todas as pessoas que procuram uma casa. Trazem cartazes, álbuns de fotografias e a dinâmica é muito engraçada.
No fim do Paseo del Prado, encontramos outro dos pontos mais cliché de Havana - El Malecón. A grande avenida à beira mar, de onde é possível observar os contrastes da cidade velha com a cidade nova, é uma das zonas mais bonitas, principalmente ao pôr-do-sol.
Na ponta do Malecón encontra-se o Castillo de San Salvador de La Punta, um antigo forte que guardava a entrada em Cuba, por mar.
Seguimos pela Plaza 13 de Marzo pelo Museu da Revolução e pelo Museu Nacional de Belas Artes, com uma pequena paragem no Bar Mekedé - muito giro! - para uma bebida fresca, bastante necessária para quem saiu do Inverno português para um clima abafado como o de Havana.
A Igreja de Angel Custodio, construída em 1695, vale a pena a visita não só por ser uma típica Igreja Católica - em Cuba, o catolicismo coabita com a Santeria, a religião popular mais praticada - mas também pela estátua da personagem Cecilia Valdes, criada pelo escritor cubano Cirilo Villaverde. Também o busto do próprio escritor é visível na casa em frente.
Estamos novamente envolvidos na zona mais típica de Havana Vieja, onde a música está sempre presente e a cada cinco minutos nos cruzamos com uma banda a tocar pelas ruas. As casas são pintadas de cores contrastantes, há vendedores ambulantes por todos os lados e carros clássicos estacionados aqui e ali, a obrigar-nos a parar para uma e outra fotografia.
O destino foi a Calle Empedrado, onde se situa a conhecida La Bodeguita del Medio. Independentemente de serem onze da manhã, não resistimos a experimentar os famosos mojitos. São muito bons, há música ao vivo e, no andar de cima, um restaurante onde é possível sentar e experimentar comida cubana. O espaço em si é muito giro, com recordações de todos os V.I.P. que por lá passaram.
No final da Cale Empedrado, encontramos a Plaza da La Catedral onde, tal como o nome indica, encontramos a Catedral de Habana. Não a visitámos, por se encontrar fechada, mas não pudemos deixar de notar as duas torres que terminam a sua fachada que, ao contrário do que é normal neste tipo de fachadas, são completamente diferentes uma da outra.
Também na Plaza de la Catedral, visitámos a Casa del Marquez de Arcos, onde é possível percorrer as várias divisões e ver algumas peças e obras de arte bem conservadas. Na fachada em frente, um mural pintado com algumas das figuras mais importantes da sociedade cubana na época da independência.
Depois de um almoço bem preenchido de moros e cristianos no Restaurante San Juan, voltámos às ruas de Havana Vieja, que continuavam cheias de vida, tal como as tínhamos deixado.
A primeira paragem da tarde foi o Palacio de los Capitanes Generales, que alberga atualmente o Museu da Cidade. Além da beleza arquitectónica do edifício e da colecção de objectos da época colonial que o Museu alberga, vejam também a única rua em madeira de toda a cidade. Na altura em que o edifício era ocupado pelos Generais, as ruas empedradas foram substituídas por madeira para que o barulho das carruagens não os incomodasse. Hoje, depois de tantos anos e devido à humidade cubana, este troço é o único que resiste.
Estamos novamente perto do mar, no Castillo de Real Fuerza. Este forte, do Séc. XVI, é o edifício militar mais antigo e também o forte em pedra mais antigo da América, tendo sido considerado parte do Património Mundial da UNESCO em 1982.
Ao lado, El Templete, o monumento que homenageia a fundação da cidade de San Cristóbal de la Habana em 1519. Dentro dos muros do Templete está a árvore que marca o local da fundação, a Columna de Cacigal e um edifício com pinturas que retratam o momento da fundação da cidade. Em cada aniversário, os habitantes de Havana dão três voltas completas à árvore, em busca de sorte.
Do Templete é possível observar a estátua da Giraldilla, no topo de uma torre. Semelhante à Giralda de Sevilha, esta estátua retrata a história de uma mulher que esperava, eternamente, pelo regresso do marido que havia morrido em missão na Florida.
Na mesma praça encontramos também o bonito edifício do Hotel Santa Isabel.
Na Plaza de Armas é possível descansar, observar a estátua do originário da Revolução Cubana e também comprar livros antigos em segunda mão. É um dos sítios em que vale a pena ficar uns momentos, a observar os turistas e os locais nos seus percursos e os livros que nos vão oferecendo. Dizem que se fazem alguns achados por ali!
Caminhando em direcção ao Porto de Havana, onde desembarcam os grandes navios de cruzeiro que param por horas para explorar a cidade, encontramos a Plaza de San Francisco, onde se situa o Convento de San Francisco de Assis. Era nesta praça que se realizava todo o comércio de Havana, em tempos já idos, por se situar mesmo ao lado da Zona Portuária.
Nesta praça, não deixem de parar na Estatua del Caballero de Paris, cujo verdadeiro nome era José María López Lledín. A estátua retrata um louco que deambulava pelas ruas de Havana e jurava ser um cavaleiro parisiense que escrevia poemas. O louco acabou por se tornar numa figura acarinhada e defendida por toda a população, que lhe ergueu esta estátua após a sua morte. Mais uma superstição: tocar na barba e pisar o pé da estátua ao mesmo tempo dá-nos sorte, dizem.
Seguindo em direcção à Plaza Nueva, passamos no primeiro orfanato de Havana, onde na parede ainda está, intacta, a janela com portas de madeira onde deixavam as crianças para serem recolhidas. Hoje em dia, funciona aqui um infantário público.
E chegamos, então, à Plaza Nueva. Plaza Nueva, que agora se chama Plaza Vieja - sim, pois, isso! Mais edifícios coloridos que merecem muitas fotografias, as típicas mulheres cubanas de charuto e trajes tradicionais coloridos e muita vida. À saída da praça, encontrámos o Museu do Chocolate, onde se compram bombons deliciosos - se tiverem a sorte de ainda não terem esgotado, claro.
O próximo ponto do nosso percurso revelou-nos as mais inusitadas surpresas de Havana. Em busca do Hotel de Hemingway, encontramos a casa onde viveu Eça de Queiroz (é verdade!) e uma estátua de Camões. Surpresa das surpresas, Camões em Havana não usa pala, mas continua de Lusíadas na mão. Estamos, é verdade, em todo o lado!
Ao fundo da rua, numa esquina, o Hotel Ambos Mundos. Era aqui que ficava Hemingway em Havana e o quarto onde sempre dormiu está hoje transformado num museu, com todos os seus pertences. Apesar do hotel continuar em funcionamento, é possível entrar e visitar o quarto.
Estamos novamente embrenhados nas ruas mais típicas de Havana Vieja e a tarde já se faz longa. Cruzamo-nos com a Farmácia Johnson, mantida intacta permitindo-nos uma viagem no tempo, com um supermercado local onde apenas se compra em CUP (moeda local exclusiva para cubanos, os turistas têm a sua moeda própria) e onde, ao contrário da realidade de há uns anos atrás, já não escasseiam tanto os alimentos, e também com uma pequena feira de artesanato local, perfeita para comprar uma ou outra recordação (mas prometemos uma melhor recomendação para compras no roteiro de Havana Nueva).
Ao fim da rua esperava-nos a Floridita, uma estátua de Hemingway e os seus daiquiris preferidos. Provados, aprovados e com uns minutos de descanso - os quilómetros percorridos já nos pesavam nas pernas - e até uma paragem para aproveitar o wi-fi (perceber onde há wi-fi em Cuba é tão fácil como encontrar grandes aglomerados de pessoas com telemóveis na mão; mas não é wi-fi gratuito, desenganem-se, é preciso ter um cartão pago para lhe conseguir aceder e cada segundo conta).
Em frente à Floridita encontra-se o Gran Hotel Manzana, o único hotel de uma empresa americana, em Cuba. Foi mandado construir depois da visita de Barack Obama e reúne todos os luxos a que um hotel americano tem direito. Depois da eleição de Trump, a procura baixou consideravelmente e as suas taxas de ocupação não ultrapassam os 70%. O edifício, ainda que bastante trabalhado, tem um contraste enorme com a zona em que está inserido.
E, sem darmos por isso, estamos novamente no Parque Central, mesmo ao lado do Capitólio, onde iniciámos o nosso percurso.
Apanhámos um táxi partilhado (1 CUC paga qualquer trajecto, mas para locais, em CUP, é muito mais barato) e aproveitámos a magnífica luz do pôr-do-sol sobre o Malecón, no regresso a "casa". Era hora de descansar e de nos prepararmos para o local que pretendíamos visitar à noite, depois das muitas recomendações das pessoas com quem nos cruzámos.
E foi noutro táxi partilhado que à noite, já sem a companhia de Daily, nos dirigimos à Fabrica de Artes. Este projecto cubano, muito recente, deixou-nos completamente rendidos e com vontade de trazer algo semelhante para Portugal. Falo-vos de uma antiga fábrica, já fora do centro da cidade, recuperada com o objectivo de mostrar a quem lá está o melhor da arte cubana, no sentido mais lato da palavra: há arte na música, na escrita, na pintura, na fotografia, no design, na arquitectura, na moda. E tudo isto está representado na Fabrica de Artes. Além de exposições, pequenas lojas, uma discoteca, salas de música ao vivo e de vários bares e um restaurante, há também desfiles de moda e intervenções artísticas. É uma daquelas experiências que não podem perder!
Apesar de os tempos modernos já influenciarem Havana e da cidade estar cada vez menos fechada na "bolha" de que nos habituámos a ouvir falar, é uma cidade encantadora. A nós, conquista-nos principalmente a forma como vivem a cultura e as artes, e a música ao vivo em qualquer lugar. Há momentos que não se esquecem e ouvir "Guantanamera, guajira, guantanamera" ao vivo, numa qualquer rua de Havana, será sempre um deles. E, passados meses, ainda vos consigo identificar o preciso sítio em que estávamos quando isto aconteceu. Havana toca e toca-nos, também! E foi só o início desta aventura que ainda agora vos começámos a contar.
Let's Run Away?