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Quatro mil quilómetros depois.


Tardou, mas não falha.
O jet lag levou a melhor nos primeiros dias após férias, juntamente com a necessidade de pôr a vida em dia. Muitas máquinas de roupa depois, estamos aqui para vos falar da roadtrip que fizemos, em Junho, por terras do Tio Sam.


Voámos de Barcelona para Oakland (mesmo ao lado de São Francisco) com a Level - falaremos sobre a experiência com esta companhia aérea mais tarde - e, num instante, estávamos em São Francisco com a nossa bagagem e muita vontade de conhecer a cidade. Logo no primeiro dia, com os horários trocados, fizemo-nos ao caminho e desbravamos uma pequena parte da cidade. Por muito pouca que tenha sido, foi suficiente para começarmos a render-lhe o coração. 
São Francisco é linda, com as suas ruas íngremes, as casas vitorianas, o som das campainhas dos cable cars, a luz fantástica ao amanhecer e ao final da tarde. Ao fim de poucas horas já estávamos apaixonados e comentávamos que nos ia custar abandonar a cidade. A zona portuária tem uma vida muito própria e clam chowder de chorar por mais. A Golden Gate Bridge é magnífica de todas as perspectivas possíveis e imaginárias (e testámos várias). Apenas os sem-abrigo lhe roubam um pouco a magia, chamando-nos duramente para a realidade numa cidade de sonho. São muitos, estão por todo o lado mas, ao contrário do que possamos imaginar, não são pedintes nem notámos que abordassem os turistas. A imagem, ainda assim, não deixa de impressionar.


Escapámos, de São Francisco, até ao Yosemite National Park. Talvez uma das maiores surpresas da viagem. É abismal. A sensação que temos, como vos disse nos resumos que fomos publicando na nossa página de Facebook, é que a Natureza nos grita "Afinal de contas, quem é que manda aqui?" em cada paisagem. A paisagem é abismal, o ar que respiramos é abismal, a natureza que nos rodeia é abismal, o envolvimento é abismal. Fizemos um trilho até Mirror Lake e visitámos cada um dos principais viewpoints do parque. Na rubrica "Dizem que é mau olhado", podemos acrescentar o facto de Mariposa Groove ter reaberto ao público, depois de três anos de obras, no dia a seguir a visitarmos o Parque...



Seguimos depois para Sul, pela California-1, acompanhando todo o Big Sur. Santa Cruz, Monterey, Carmel-by-the-sea e Big Sur. Uma paisagem costeira tal como a imaginamos: um mar apetecível, arribas rochosas, muito verde e vistas que nos fazem querer parar o carro a cada minuto. Em Dezembro de 2017 esta zona sofreu bastante com as tempestades e dois troços de estrada estavam, há vários meses, cortados. Recebemos com muito entusiasmo a notícia de que já era possível conduzir até Bixby Creek Bridge e McWay Falls. Foram dois dos pontos altos da viagem. Não ficámos tão entusiasmados quando percebemos que o caminho alternativo que o Google Maps nos recomendava não era, afinal, tão recomendável e que teríamos que voltar para trás até apanhar a Highway 101.


Antes de chegarmos a Los Angeles propriamente dita, visitámos Santa Bárbara - tão pitoresca! - e almoçámos em Malibu... rodeados de um cenário que parecia o set de gravação dos vários programas da família Kardashian. Estreámos Los Angeles com Santa Mónica e Venice Beach, entrando directamente nas nossas lembranças da série Californication. Los Angeles é a cidade cinematográfica e não é necessário chegar a Hollywood para perceber isso. De todos os destinos que visitámos, este foi sem dúvida o que tem o ambiente mais chamativo: pessoas com pinta, música e streetart por todo o lado, um estúdio porta sim porta não. As foodtrucks dão-lhe o toque final para fechar a vibe. Só a simpatia das pessoas deixou a desejar, em comparação com São Francisco ou Las Vegas, por exemplo. 


Por falar em Las Vegas, foi uma agradável surpresa. É a cidade mais "falsa", mas o ambiente à noite é imperdível. As cores, as luzes, o movimento das pessoas. O espectáculo de água na fonte do Bellagio é de fazer chorar as pedras da calçada, a grandeza dos hotéis e dos casinos faz qualquer um sentir-se pequeno. De dia, é uma cidade triste e desajustada. Soa estranho ver os edifícios, que afinal não são tão resplandecentes quanto isso, ali ordenados: uma Pirâmide Egípcia seguida do Arco do Triunfo, a Estátua da Liberdade que afinal é minúscula, um Beach Club quando estamos em pleno Nevada. Já os outlets são muito simpáticos, foi aqui que desgraçámos a carteira! (afinal de contas, quem resiste a toda a loja da Michael Kors com 70% de desconto? Ou a tshirts da Levis por menos de 7$?)


Um dos destinos mais procurados a partir de Las Vegas é o Grand Canyon e foi isso que fizemos. Pelo caminho, passámos um dia entre Zion Canyon, Glen Canyon e Antelope Canyon. Não estiveram, durante muito tempo, nos planos desta viagem. Mas acabaram por ser o ponto alto de tudo. Zion conquista-nos pelo vermelho da paisagem (e, feita spoiler, posso já dizer-vos que estão muito enganados se acham que vão ver vermelho na paisagem do Grand Canyon). As paisagens são bonitas, o alcatrão está vermelho e isso, além de muito fotogénico, é muito inesperado.  Em Glen Canyon dedicámos um trail de nível de dificuldade elevado (como é que ninguém nos avisou?) para ver Horseshoe Bend. São 20 minutos debaixo de mais de 40 graus, num caminho com relevo e muita areia e pó, sem uma única sombra. Quando lá chegamos a paisagem vale a pena, é claro, mas a vontade é ficar lá para não ter que fazer o caminho todo novamente... Antelope Canyon é o destino de sonho para qualquer amante da fotografia, ou só para quem queira fazer boa figura. É que qualquer Samsung ou iPhone (palavras do guia, não minhas!) tira fotografias dignas de moldura por aqui. A formação do Canyon é muito interessante de aprender, a vista é capaz de nos deixar de boca aberta durante os 45 minutos da visita guiada. Vale muito a pena e subiu directamente para o TOP de melhores experiências da vida destes dois.


O Grand Canyon é, como já vos deixei escapar, castanho. E enorme. Talvez porque estávamos à espera de ser surpreendidos como em Yosemite, talvez porque as expectativas iam altas por ser "O" Grand Canyon, talvez porque a perspectiva é diferente (no Grand Canyon, vemos a paisagem sempre de cima), não nos deixou extremamente apaixonados. É muito bonito, a extensão do Canyon é suficiente para se perder de vista, mas... Mas, pronto.


Pelo meio, fizemos ainda dois troços da Route 66. A famosa Route 66 que, descobrimos, é uma autêntica tourist trap. E não foi preciso um dos voluntários do Museu de Victorville nos dizer "É estranho, só aparecem cá estrangeiros..." para percebermos isso. A nossa opinião vem da falta de informação, da falta de um trajecto (em muitos dos quilómetros, a estrada já nem sequer existe) e pela quantidade de "dead ends" que encontrámos. No trajecto Santa Mónica - Needles, dentro da Califórnia, que fizemos no primeiro dia, ficámos desolados. Depois, por recomendações que recebemos, fomos de Kingman até Needles, um troço dentro do Arizona. As paisagens aqui são bem melhores, muito fotogénicas e é realmente a Route 66 que temos no nosso imaginário. Ainda assim, não é uma experiência espectacular e deu-nos muito mais gozo fazer, por exemplo, a Estrada Nacional 2 em Portugal.

Foi bom, apesar de levarmos tudo planeado, termos espaço de manobra para adaptarmos a viagem ao que fomos descobrindo, percebendo ou achando de cada destino. Mudámos hotéis, mudámos percursos, alterámos até as datas de aluguer do carro. E esta ginástica só tornou a viagem ainda melhor.

Foram quinze dias muito preenchidos, muito vividos, muito tudo. É uma viagem de peso, daquelas que nunca se esquecem. Vimos tanto e guardámos tanto na memória que nem os milhares de fotografias que as câmaras trouxeram são capazes de explicar. Quatro mil quilómetros depois, voltámos de Los Angeles com a sensação de objectivo cumprido. Foi muito, muito bom.

Perguntaram-nos já várias vezes se foi "A" viagem das nossas vidas. Bom, foi muito boa, mas não foi "A" viagem. E nisso, somos unânimes: uma viagem aos Estados Unidos nunca vai ser "A" viagem das nossas vidas. Porque lhe falta aquilo que mais sentimos falta durante estes quinze dias: as pessoas, o imergir na cultura, naquilo que é próprio de cada lugar. Conhecemos pessoas realmente simpáticas e acolhedoras nestes dias, mas não nos sentimos a entrar no coração daquilo que o povo que nos recebe é, como quando visitamos Bali ou Cuba. São destinos diferentes, são viagens incomparáveis. Dos E.U.A., o que nos fica, é a magnificência dos Parques Naturais. Esses, não têm concorrência.

Vamos publicar, a seu tempo, vários textos com toda a informação sobre a nossa viagem. Fica prometido! :)

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