A Serra da Lousã estava na lista há demasiado tempo.
Com a roadtrip pela Estrada Nacional 2, passámos na Serra da Lousã, onde desviámos para quatro aldeias de xisto - uma delas, a aldeia de xisto a maior altitude - e ficámos ainda com mais vontade de a conhecer melhor. O nome "Talasnal" andava a ficar-nos no ouvido há demasiado tempo, também. Acho que ainda corria o mês de Junho quando decidimos que iríamos dedicar um fim-de-semana de Setembro a explorar esta zona.
E um fim-de-semana foi o tempo perfeito para a explorarmos: mais dias, e corríamos o sério risco de vir de lá a rebolar até Lisboa. É que além de ser uma zona linda, lá come-se muito bem! Tão bem que foi a disponibilidade dos restaurantes que ditou a ordem de exploração das aldeias - sim, é necessário reservar com antecedência, os restaurantes estão sempre esgotados. A reserva de restaurantes foi uma excelente dica dos gatos do Gato Vadio Travel Blog, que estiveram na Lousã uma semana antes de nós e contaram tudo aqui.
Começámos o sábado a conhecer o Parque Biológico da Serra da Lousã. Somos seguidores assíduos da sua página de Instagram (aqui) e do bom humor com que nos dão a conhecer os seus animais. Queríamos conhecer melhor o trabalho que fazem com os animais que acolhem e acabámos rendidos ao Labirinto de Aromas, com árvores de fruto da região. E aos animais, também.
Depois, o almoço esperava por nós no Restaurante Sabores da Aldeia, no Candal. A chanfana, com fama nacional, assentou que nem uma luva e deu-nos força para subir até ao Miradouro da aldeia, bem colocado na Serra e no topo de uma escadaria. Felizmente, as doses do restaurante são grandes, ou correríamos o risco de descer de volta à Estrada Nacional que atravessa a aldeia prontos para comer outra vez. Candal é deliciosamente inclinada e preservada, mantendo o clima de aldeia a sério (e já vão perceber porque digo isto). Avisto uma casa à venda e pergunto, pela primeira vez "Compramos esta para fugir aos fins-de-semana?"...
Voltámos atrás na estrada e explorámos Cerdeira. Já sabíamos - fizemos o T.P.C. - que esta seria uma aldeia diferente, por ter sido recuperada no âmbito de um projecto artístico e criativo. Sabíamos também que grande parte das casas estavam envolvidas num projecto de alojamento turístico. E, talvez por isso, tenhamos achado que lhe falta qualquer coisa. Está tudo demasiado certinho, faltam-lhe as roupas no estendal e o fumo nas chaminés, a vida "a sério". Mas é linda, lá isso é!
Vaqueirinho e Catarredor são aldeias de xisto - mas não Aldeias do Xisto - e são, porventura, as mais simples e humildes. Numa delas, uma casa com a indicação "O fim do mundo". Parece que estamos mesmo no fim do mundo no sentido remoto, mas aqui já chega TV por cabo e ADSL. Mas chega também o ar puro da serra, uma paisagem incrível e várias nascentes de água. É também aqui que nos começamos a divertir com um novo jogo: contar, de todas as caixas do correio da aldeia, quantas são de estrangeiros. Nomes ingleses, holandeses, alemães: são uma parte considerável da ocupação destas aldeias que os portugueses, há muitos anos, abandonam em detrimento das grandes cidades.
O Talasnal esperava por nós com uma enorme fila de carro à porta: sim, que nestas aldeias só se circula a pé e os carros ficam, literalmente, à porta. Tão cheio de gente e barulho, fizemos check in no alojamento que tínhamos reservado através da plataforma Book in Xisto e deixámos a exploração da aldeia para a manhã seguinte, quando o ambiente estivesse mais calmo. Ainda era cedo quando saltámos da cama e descobrimos como as parras de videira são uma sombra perfeita, fazendo um jogo de luzes fenomenal com o castanho do xisto. Esta aldeia está aperaltada com um toque romântico - daí o cognome "Montanhas de Amor" - e isso vê-se, sente-se.
Mas antes de vos falar da manhã de domingo, não podemos deixar de vos falar do pôr-do-sol no Alto do Trevim. É instagramamente-famoso e o baloiço lá colocado pelo projecto Isto é Lousã dá-lhe o toque bucólico final. Mais do que ir lá em busca da foto perfeita - mea culpa! - aproveitem e voltem à infância no baloiço: a sensação de baloiçar ali, com o ar puro a bater-nos na cara e a paisagem aberta à nossa frente, desde a Serra da Lousã até ao mar, foi "o" momento do fim-de-semana. Pena ter durado escassos minutos, tal era a fila de gente que queria fazer o mesmo...
O jantar marcado no famoso Ti Lena foi uma óptima desculpa para descer do ponto mais alto da Serra de volta até ao Talasnal...
Para domingo deixámos outras tantas aldeias de xisto: Casal Novo e Chiqueiro, mais genuínas e cruas, treinaram os nossos músculos nas subidas e descidas, com vistas perfeitas da Serra e para a Serra e muitas, muitas escadas. Continuamos a deliciar-nos com as cortinas de crochet nas janelas, mas há também Thiago Brava a pedir à "Dona Maria" que o deixe namorar a sua filha, a sair de umas colunas escondidas algures.
Almoçámos no muitíssimo recomendado (e recomendável) O Burgo, na Lousã, mesmo colado a três outras atracções da zona: as Piscinas de Nossa Senhora da Piedade, o Santuário de Nossa Senhora da Piedade e o Castelo da Lousã.
Deixámos para último a caixinha de surpresas: Gondramaz. É realmente deliciosa, na mistura de casas recuperadas para alojamento turístico e casas onde vive gente "nascida e criada em Gondramaz", como a senhora que só viveu alguns anos na Figueira da Foz e depois voltou, fazendo questão de cumprimentar quem chega. Uma turista pergunta "Mas mora sozinha?", e a senhora simpática nascida e criada em Gondramaz responde, na sua certeza absoluta tão comovente: "Claro que não, moro com os meus vizinhos"... No parque de estacionamento, um casal jovem carrega a bagageira do carro com legumes que colheu na horta, enquanto explica a uma antiga vizinha que agora na cidade têm uma casa com aquecimento central, sem humidades. "E horta, têm?", pergunta ela.
E tínhamos ficado ali, nesta dinâmica, o resto do dia...
É doce este pedaço de Portugal, no seu ar puro (não me canso de repetir isto), nas cortinas de crochet que só nos deixam adivinhar o que vai dentro de cada casa, no cheiro aos figos a amadurecer nas figueiras, nas parras ainda sem uva que dão sombra e contrastam com o castanho do xisto, nas flores, nas heras, nos arbustos que se pegam às paredes e as tornam mais fotogénicas. É, sem dúvida, um destino para voltar. E voltar...
[O roteiro, esse, chegará em versão "Especial Aldeias de Xisto", daqui a uns tempos!]
[O roteiro, esse, chegará em versão "Especial Aldeias de Xisto", daqui a uns tempos!]