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Sabe a xisto.


Não, não andámos a provar xisto.
Mas há qualquer coisa nas aldeias de xisto portuguesas que lhes dá um sabor diferente. Não sei se é o cheiro a natureza, se é do contraste do verde com o castanho das paredes, se é do aroma a frutos que encontramos em qualquer altura do ano. O que é certo é que mesmo que sejam só dois dias, voltamos destas escapadelas como quem voltou de uma semana de férias - descansados, revigorados e a chorar por mais.

No fim-de-semana passado rumámos à zona de Oleiros, onde ficámos alojados no Hotel Santa Margarida. Tínhamos um voucher de alojamento que nos ofereceram no Natal para usar e este hotel pareceu-nos uma excelente escolha perante as opções possíveis. A localização, perto de algumas das Aldeias do Xisto que nos faltavam visitar, deu o mote para agendarmos a escapadela para Maio, há alguns meses atrás.

Depois, munimo-nos do guia Aldeias do Xisto e do guia da Beira Baixa, ambos da Foge Comigo, e traçámos o nosso plano. Além de descansar, queríamos conhecer sete aldeias de xisto e ainda tivemos tempo para descobrir um pouco do que o concelho de Oleiros tem para oferecer.
É claro que cada uma das aldeias que visitámos merecia mais do que uma visita de médico e, se umas são tão pequenas que a hora que lhes dedicámos chegou, de outras já não podemos dizer o mesmo. Mas o tempo que tivemos foi o suficiente para lhes sentirmos a vida e anotarmos, na nossa memória, a quais quereremos voltar.

Figueira, a primeira que visitámos, foi um bom exemplo disso. As ruas impecáveis, as casas recuperadas, as rendas nas janelas. Habitantes daqueles a sério, que dizem "bom dia" com um sorriso na cara quando nos vêem chegar. Almoçámos na Casa Ti'Augusta, onde só o pão cozido no forno comunitário da aldeia teria feito a ida valer a pena. Do bacalhau, do "afogado da boda" (típico da região), da mousse de morango e da tigelada é melhor nem falar. Tudo delicioso. Depois, visitámos Sarzedas, onde a torre sineira é agora um miradouro para a aldeia. Martim Branco chegou-nos com cartazes que indicavam "Encontro da Família Lourenço" e lá estava ela, sim senhor, à beira rio no seu piquenique. Tentámos atrapalhar a dinâmica o menos possível, mas não resistimos a misturar-nos para espreitar os tabiques de xisto que cortam as águas. Barroca garantiu-nos o lanche e um repouso na zona ribeirinha, com o miradouro bem posicionado numa sombra e vista para as minas da Panasqueira. Mas foi o Miradouro da Sarnadela, em Janeiro de Cima, que nos roubou o coração. Que vista, senhores!! Janeiro de Cima e Janeiro de Baixo surpreenderam-nos pela mistura de seixos do rio nas fachadas de xisto das suas casas, atribuindo um aspecto mais pitoresco (se possível) às ruas por onde passámos. E que bem cuidadas estão!

Em muitas delas, o xisto já não é rei da vista. Está lá, preservado, nas paredes cimentadas e caiadas de branco das casas por onde passamos. E, numa primeira vista, pensamos que as aldeias não têm o mesmo encanto assim. Talvez por isso tenhamos gostado mais e dedicado mais tempo às aldeias que preservam as fachadas na cor do xisto, que contrasta com a vida que têm.
Ao contrário da Serra da Lousã, onde encontrámos aldeias de xisto mais turísticas e algumas quase vazias, estas são aldeias com mais vida e mais cor. Mais genuínas. E que merecem tanto a nossa visita.

Para domingo o planeamento contou com "mais Oleiros do que xisto" e com um regresso adiantado a casa, para garantir que chegávamos a tempo de votar. Viajar, sim, mas o nosso dever cívico está acima dos nossos passeios e quisemos garantir que o faríamos, sem stresses e sem pressas. Afinal de contas, parecia que a sexta-feira já tinha acontecido há muitos dias e não queríamos perder esse sentimento, antes da segunda-feira chegar. Saímos do hotel em direcção à Serra do Muradal, com vistas espectaculares. Na verdade, o que queríamos ver eram as Cascatas da Fraga de Água d'Álta. Pelas fotografias que vimos, são irresistíveis. Mas ficámos só por aí, já que o caminho não estava transitável (uma pena!) e não nos aventurámos à descida íngreme a que obrigava. Seguimos para a muito recomendada Adega dos Apalaches, em Roqueiros, onde por sorte conseguimos experimentar o cabrito estonado, típico da região. E que almoço, senhores! Recomendamos reserva (de mesa e do cabrito, também), já que por pouco íamos ficando apeados. Depois de sentados, a comida chega à mesa sem pedir e sem longas esperas, e os sabores vão-se infiltrando em nós até ao "pijaminha de sobremesas", que inclui a tigelada regional e outras tantas iguarias. Além da água na boca, guardamos na memória com carinho a simpatia com que fomos atendidos. Inesquecível!

Guardámos para a tarde as ruas de Oleiros, onde descobrimos a Igreja Matriz com os seus cinco altares dourados. Tão rica! E, nas ruas, os murais com quadras dedicadas a Oleiros também ficaram registados no nosso cartão de memória. Antes de voltarmos a casa, descobrimos ainda Álvaro, a última aldeia de xisto que planeámos visitar neste fim-de-semana. Ou foi Álvaro que nos descobriu, no miradouro do adro da igreja, misturados com os locais, enquanto desfrutávamos da sombra do medronheiro, do banco do jardim e da vista para o rio Zêzere. Reza a história que até houve uma pequena sesta, para fechar o fim-de-semana em grande.

Vamos, como é costume, contar-vos tudo num roteiro detalhado. Porque, quanto mais viajamos (para fora ou cá dentro), mais certos ficamos que Portugal é o país mais lindo do mundo e que será um crime não o descobrir, centímetro a centímetro.

Let's Run Away?

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