Post Page Advertisement [Top]

Roteiro: Trinidad (2 dias)


A primeira imagem que temos de Trinidad é aquela que mais nos marca: a cor. E é essa característica que mais trazemos na memória. Se às fantásticas cores dos edifícios juntar-mos uma Serra lindíssima como pano de fundo, calçada empedrada a tornar o ambiente ainda mais pitoresco e música ao vivo vinda de todos os lados, temos a cidade cubana que mais nos apaixonou.
Trinidad parece saída do passado, de um conto de fadas, de um desenho animado: tudo ao mesmo tempo. É deliciosa. E repito-me quando digo que nos apaixonou como há poucas no mundo. Devemos ter disparado qualquer coisa como 5 fotos por metro quadrado, e palmilhámos muito aquelas ruas... 
Graças à enorme sorte de termos Basílio por perto - apesar de termos conhecido as ruas de Trinidad sozinhos - sentimos que a explorámos ao máximo. E este pode até ser um dos roteiros mais completos de Trinidad que se encontram na web. Obrigada, Basílio!

Chegámos a Trinidad ao início da tarde, depois de conhecermos Cienfuegos (roteiro aqui). Basílio deixou-nos na Casa Marisela y Gustavo, onde iríamos dormir nas duas noites seguintes. Pousámos as malas e saímos à descoberta, que o sol já começava a baixar no horizonte e a nossa sede de conhecer Trinidad era muita.

Subimos a Calle Pino Guinart em direcção ao centro pedonal e, três passos depois, já estávamos parados a tirar fotos. Vamos espreitando os bares e restaurantes mas também as casas: as enormes janelas, ao estilo colonial, deixam-nos "entrar" subtilmente pelas salas dos habitantes locais. Se numas há uma TV (e até vimos um bocado de um jogo com uma equipa portuguesa), noutras há música ao vivo ou rituais de Santería.



A primeira vez que Trinidad nos deixou surpresos foi ao depararmo-nos com La Bodeguita del Medio. Não é tão grande como a de Havana, claro, mas tem os mesmos mojitos e ambiente descontraído, acompanhado de música ao vivo. 



Mesmo ao lado, um mercado de artesanato. Aproveitámos para comprar os ímanes do costume e algumas lembranças típicas - como as bonecas cubanas em miniatura, irresistíveis. Não é o único local onde vão encontrar um mercado. E se este era mais direccionado ao barro e à madeira, há também os mercados que apenas vendem peças em tecido, desde roupa a toalhas de mesa. Não tenham medo de regatear o preço - é suposto! - e encontrarão, certamente, boas oportunidades.




Antes do sol se pôr, passeámos à deriva pelas ruas, sem destino traçado. A piada de Trinidad é mesmo esta: cada rua é diferente, mas igual em encanto. E as cores das casas convidam-nos sempre a andar mais um pouco, para descobrir mais. O único senão é mesmo a irregularidade do piso: as ruas são pavimentadas a seixos do rio, ou seja, pedras arredondadas e escorregadias. Ténis ou sandálias bem presas aos pés são os mais indicados, se não quiserem nenhum percalço.





Até os nomes das ruas são sugestivos em Trinidad, e não estranhem quando a Calle Amargura se cruza, por exemplo, com a Calle Desengaño. Faz parte da magia. Não estranhem, também, o aglomerado de pessoas na escadaria da Calle Cristo: é aqui que está a rede wi-fi na cidade. À noite, a mesma escadaria estará cheia, mas por outros motivos. Já lá iremos...


Não repetimos o mojito na La Bodeguita del Medio, mas esta não podíamos deixar passar. La Canchanchara é um bar típico, com música ao vivo (é como que um requisito obrigatório, em Trinidad!) e a bebida tradicional: a própria Canchanchara. Provado e aprovado, com dois pézinhos de dança à mistura.




Era já noite quando saímos do bar, mas Trinidad continuava linda. E a iluminação das ruas torna os carros clássicos ainda mais irresistíveis ao olhar da objectiva.


À nossa espera tínhamos o jantar na La Botija, o restaurante mais conhecido. Serve comida e bebida 24 horas por dia, 7 dias por semana. E tem, claro, música ao vivo. Não ficámos propriamente fãs dos pratos - são bons, mas tínhamos almoçado a melhor carne de sempre ao almoço, o que não ajuda à comparação. O ambiente, esse, vale muito a pena!




O cansaço acumulado da viagem fez-nos regressar cedo a casa, onde tínhamos uma cama confortável à espera. No dia seguinte, acordámos com o pequeno-almoço caseiro à nossa espera, no pátio interior da casa de Gustavo e Marisela. O cenário era irresistível e parecia que estávamos de férias há semanas... Mas Cuba chamava por nós outra vez, e o dia prometia ser longo e cheio de surpresas. Basílio e o "nosso" clássico dos anos 50 estavam à nossa espera.

Começámos o dia com uma panorâmica brutal para a Sierra del Escambray e o Valle de los Ingenios, a partir do Mirador de La Loma. As vistas são de cortar a respiração, principalmente pelo verde que nos rodeia e pela paz que o local transmite. O Valle de los Ingenios ganhou o nome graças às inúmeras fábricas de açúcar que aqui foram construídas no Séc. XIX. São esses campos que hoje cobrem de verde a paisagem e que foram nomeados Património da Humanidade pela UNESCO. Se tivéssemos mais tempo na zona, teríamos feito esta viagem de comboio, assegura-nos Basílio, na mesma frase em que nos garante que as paisagens fazem a viagem valer a pena. Nós não temos qualquer dúvida!


Bem perto do Miradouro, visitámos Manaca Iznaga, uma herdade que ainda hoje nos permite imaginar como era feita a exploração de açúcar na época. A casa principal, que pertencia ao proprietário, mantém-se intacta e bem cuidada, com uma vista privilegiada para o Valle. Ao lado, a torre de quarenta e cinco metros de altura - uma demonstração de poder do proprietário da Herdade - dá-nos vistas ainda melhores, depois de percorrermos toda a escadaria até ao topo. O caminho é impróprio a quem sofra de vertigens (e a medricas também, já que as escadas não são as mais estáveis que já vimos), mas chegar ao topo compensa! 





À saída, jugo de caña, a bebida típica elaborada a partir das canas de açúcar. Aconselhamos a partilha, se não quiserem ficar com demasiado "sangue no açúcar"... 




A caminho do próximo ponto, parámos num típico bairro de habitação e entramos por uma oficina adentro. São oleiros, fazem todo o tipo de cerâmica, incluindo os copos onde havíamos bebido Canchanchara. Trouxemos dois e uma espécie de receita, para quando nos apetecer matar as saudades de Cuba. 


O maior segredo estava, no entanto, guardado nas traseiras. Basílio está à vontade na casa, conhece os donos, leva-nos até um Ford de 1914 religiosamente guardado. Estão a economizar para o restaurarem, e a relíquia bem que merece. 


Seguimos para o Parque El Cubano, outra das recomendações de Yoander (que fez questão que a incluíssemos no roteiro) e que não aparece, normalmente, nos guias turísticos. Foi também aqui que nos receberam com muita surpresa por sermos portugueses, o que, por sua vez, nos deixou surpresos. É que neste parque estão guardadas algumas das mais bonitas paisagens naturais que vimos, incluindo uma cascata e um cenote maravilhosos. Para lá chegarmos, existe um percurso de trekking pelo meio da floresta que inclui subidas e descidas, atravessar rios, ninhos de abelhas (milhares) e pontes de pedra (diria que o grau de dificuldade não é fácil, principalmente devido à humidade). 





Acreditem que depois de todo o percurso, chegar ao fim e ver este cenário é das melhores coisas possíveis. Mergulhámos, descansámos e fizemo-nos ao caminho novamente. Era quase hora de almoço e ainda havia muito para ver - e a fome apertava.

Chegámos finalmente às praias paradisíacas de Cuba, com águas azuis turquesa e areia branca: chama-se Playa Ancón e parece um postal. Sentámo-nos na esplanada do Hotel Ancón, almoçámos e aproveitámos para uns mergulhos. A vista é espectacular!


Todos estes pontos, que visitámos no segundo dia, ficam fora da cidade de Trinidad, mas a poucos quilómetros de distância. Dizem que vale a pena visitar também El Nicho, nas montanhas. Depois de vermos fotos, garanto-vos que não vamos deixar escapar esse ponto quando voltarmos a Cuba. Sim, porque Cuba será um destino para regressar, sem qualquer dúvida.

Mas voltemos a focar-nos em Trinidad, que ainda nos reservava algumas surpresas. Voltámos para a cidade ao início da tarde, com tempo para entrar em alguns museus e também na famosa torre que dizem oferecer as melhores vistas. É a Torre da Igreja e Convento de São Francisco, onde hoje está alojado o Museu de la Lucha contra Bandidos. O sino da Igreja é de 1853 e mantém-se intacto no cimo da torre, a que subimos. As vistas - eu sei que já disse isto de vários locais diferentes, são incríveis.




Do topo da torre é possível ver desde o mar - onde está Playa Ancón - até às montanhas da Sierra del Escambray. Pelo meio, vê-se todo o colorido das casas de Trinidad.

Daqui, corremos para o Palácio Cantero, que alberga o Museo Histórico Colonial. O que nos interessava aqui não era o Museu (que infelizmente não tivemos tempo de ver), nem o estilo neoclássico do edifício (bastante diferente dos restantes) mas sim a vista do terraço. Chegámos ao Palácio minutos antes de fechar - acho que até entrámos pela porta das traseiras, de tão apressados que estávamos - e quando chegámos às escadas para o terraço uma dezena de turistas disse-nos que tinha acabado de fechar. Não queríamos acreditar (era a nossa última oportunidade) e subimos na mesma, até encontrar a cubana mais mal humorada que conhecemos. Fizemos o nosso melhor ar de gato das botas e conseguimos entrar no terraço "só para uma fotografiazinha". Foi, literalmente, para a fotografia. Porque assim que parámos para apreciar condignamente a paisagem - a mais bonita que vimos em Trinidad - a cubana mal-humorada voltou para nos arrastar do terraço para fora. 


A melhor dica que vos podemos dar é só uma: vão com tempo! Todo o edifício é bastante interessante, mas a profundidade da vista panorâmica é avassaladora. Como a vimos, ao pôr-do-sol, tem uma magia especial. É daquelas imagens que nunca vamos esquecer! 
A rir de toda a situação, voltámos à Trinidad colorida com carros clássicos estacionados sedutoramente em cada canto, a pedir para serem fotografados. 



Terminámos a tarde com um sumo fresco na Plaza Maior, com uma luz espectacular e o nosso habitual salto de cada destino. Aproveitámos para apreciar a Casa de los Conspiradores e tentámos também visitar a Iglesia Parroquial de la Santisima Trinidad, com um altar de madeira talhada com uma enorme história associada (que deixo para descobrirem...), mas já se encontrava fechada. Do outro lado da Plaza, encontramos ainda a Galería de Arte Universal Benito Ortiz e o Palacio Brunet.


Se acham que isto é tudo o que Trinidad tem para nos mostrar (e já não seria pouco), estão redondamente enganados. Trinidad é uma autêntica caixinha de surpresas, e a noite foi longa! Começámos na famosa Casa de La Música, onde durante todo o dia há música ao vivo. À noite, dezenas e dezenas de pessoas juntam-se aqui para dançar. As bandas vão mudando, mas os professores de salsa cubana estão lá permanentemente para nos ensinar os passos mais básicos ou, para praticantes mais avançados, os mais arrojados. O ambiente é espectacular e ninguém resiste a um pézinho de dança.


Daqui, a tradição diz que se segue para a Casa de la Salsa, umas ruas abaixo. Num espaço mais restrito, há música ao vivo e Salsa, também, mas num nível mais avançado. Dancem ou assistam, vale mesmo a pena! É aqui que sentimos viver a verdadeira Cuba.

Fechámos a noite - e a nossa passagem por Trinidad - na experiência mais insólita de toda a viagem: La Cueva. O nome oficial é Disco Ayala, mas ninguém a conhece assim. É preciso sair do centro da cidade, subir ruas de terra batida durante largos minutos, mas a fila à porta não deixa margem para enganos: chegámos à discoteca local. Com a particularidade de ser uma discoteca... numa gruta. Sim, leram bem. E acreditem que os meus pensamentos durante todo o tempo que lá estivemos variaram entre "estou em Cuba, numa discoteca dentro de uma gruta, a dançar Bruno Mars" e "e se esta m**** me cair em cima?". 


Não é uma grutinha, é uma enorme gruta, com vários níveis (onde estão as pistas de dança) e bares. A experiência é surreal e nem a água que pinga das estalactites tira a piada ao local. 

Trinidad teve a honra de nos mostrar todo o ritmo de Cuba, toda a cor, toda a simpatia, e também de nos oferecer as experiências mais marcantes de toda a viagem. O único aspecto negativo foi mesmo o pouco tempo que lhe dedicámos. Dois dias são demasiado pequenos para tudo o que Trinidad tem para nos oferecer. 

Custou-nos, muito, ir embora. Mas Santa Clara estava à nossa espera...

Bottom Ad [Post Page]