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Fui de visita à minha tia a Marrocos hip! hop!


Mentira, não tenho nenhuma tia em Marrocos. Mas desde que comprámos os bilhetes de avião, estava o mês de Março no início, que cantamos esta música sempre que se fala na viagem (e falámos da viagem muitas vezes...). 

Era uma viagem ambiciosa, não só no número de cidades a visitar, como no facto de o nosso primeiro contacto com o país ser uma roadtrip. E pelo número de pessoas, claro: éramos sete, ao todo, entre crianças e adultos.

O nosso objectivo era visitar Marraquexe, Casablanca, Rabat, Chefchaouen e Fez. O Bernardo, do blog O Viajante Volta Já, aconselhou-nos a não visitar o deserto em Agosto, não só pelas temperaturas como por ser a altura em que os animais mais atacam. Gostamos de aventura, mas ser mordidos por uma cobra no meio do deserto não faz muito o nosso género. E assim fica já explicado o porquê de não termos incluído as dunas como destino do nosso roteiro. Rabat foi também incluída porque precisávamos de um pitstop entre Casablanca e Chefchaouen, por ser um caminho muito longo e cansativo. Desconsiderá-la desta forma foi um erro crasso, confesso-vos. Mas já lá vamos às explicações...

Esta viagem foi, provavelmente, a que nos levou a ouvir mais comentários do género "vocês estão loucos". Por irmos com os meus pais e sobrinhos (não incluo a irmã porque essa alinha em tudo) para Marrocos em pleno Agosto, pelas temperaturas, por querermos conduzir em Marrocos, etc. etc. etc. Quanto à experiência de condução, deixem-me que vos diga que fiz questão de ser eu a primeira a conduzir o carro e, ao fim de três rotundas em Marraquexe, estava pronta para tudo. O trânsito é um caos, é verdade, mas nada que quem não tenha sangue frio e mãozinhas no volante não consiga fazer - seja homem ou mulher, e aqui acabamos já com os comentários machistas que também ouvimos.


Marraquexe 



Íamos com expectativas distintas para Marraquexe e isso percebeu-se logo ao final do primeiro dia, ao trocar as primeiras impressões. Se eu estava completamente assoberbada pelo movimento, pela cor, pelo barulho, ele não estava tão entusiasmado quanto isso. A opinião dele sobre Marraquexe, ao contrário da minha, foi-se formando à medida que ia conhecendo cada uma das outras cidades. Não por comparação ou porque tenha gostado menos das restantes, mas sim porque foi dando mais importância ao que tinha presenciado.
Não é uma cidade bonita, que nos encante com as paisagens. Mas é uma cidade envolvente, que nos obriga a estar completamente rodeados da sua cultura, quer queiramos quer não. Não há como escapar ao cheiro das especiarias, às cores das bancas nos souks, ao barulho da praça Jemaa El-Fna. Quando é hora do chamamento para a oração, então, é impossível ficar indiferente: há qualquer coisa de fascinante naquele momento. Foi a nossa cidade preferida.


A Cordilheira do Atlas, Ait Ben Haddou e Ouarzazate



Se nos conhecem, sabem que gostamos de inventar. E a verdade é que não conseguimos ficar quietos durante tantos dias em Marraquexe (bom, na verdade não eram assim tantos) e perante a possibilidade de conhecer o Grande Atlas e Ouarzazate, não nos fizemos rogados. Partimos de manhã bem cedo e os quilómetros ainda não pareciam assim tantos quando ficámos maravilhados pelas primeiras paisagens da Cordilheira do Atlas, ali à nossa frente. O nevoeiro matinal, com temperaturas frescas, ajudou a dar um ar mais místico a tudo - principalmente para quem vinha em sofrimento com os 40º de Marraquexe. 
Já até Ouarzazate o caminho pareceu longo, muito longo. São quatro horas para lá chegar, pelas curvas e contra curvas da estrada que atravessa as montanhas. Ait Ben Haddou surge, no fim, como uma miragem. Talvez seja por isso que este ksar serve de cenário a tantos sucessos cinematográficos. De Ouarzazate propriamente dito, vimos muito pouco para além do Kasbah - o dia já ía muito longo e era hora de voltar a Marraquexe. 


Casablanca



Entrámos em Casablanca pelo Boulevard de la Corniche, a famosa avenida que acompanha toda a zona marginal. Chegámos, ali, a um Marrocos mais americanado, mais desenvolvido, mais destoante. A primeira fila de casas depois da praia está repleta de mansões modernas e há até o segundo maior centro comercial de África, onde é possível andar de elevador dentro de um aquário gigante. Mas a cidade em si não tem nem metade do glamour que lhe imaginávamos e nem mesmo a Medina e o Souk nos convenceram.
Valeu a pena, principalmente, pela lindíssima Mesquita Hassan II. O edifício visto por fora encanta, mas é o facto de ser uma das poucas mesquitas visitáveis por não muçulmanos que a torna tão especial. Recomendamos muito a visita!


Rabat




Já Rabat foi a grande surpresa da viagem! Com isto não quero dizer que foi a nossa cidade preferida - não foi! - mas sim a que teve uma maior diferença entre aquilo que pensávamos dela e o que realmente mostrou ser (as expectativas, meus amigos, fazem destas coisas...). Como vos disse no início, pensámos em Rabat como um pitstop para o caminho entre Casablanca e Chefchaouen, uma paragem estratégica que estava ali mesmo a jeito.
Mas a capital de Rabat foi muito mais do que isso e mostrou ser uma cidade moderna e atarefada, com zonas desenvolvidas como não vimos em mais nenhuma cidade marroquina, aliadas à história e aos monumentos que tanto caracterizam o país. Gostámos tanto que esticámos as nossas horas na cidade ao máximo possível e acabámos por fazer o caminho restante até Chefchaouen já de noite, em grande parte.



Chefchaouen 



Confesso-vos que estava com receio de Chefchaouen, tamanhas eram as expectativas que levava. As fotos falam por si, mas toda a gente me dizia que a cidade é incrível e o formador do último curso de fotografia que tirei definia-a com um "é a minha cidade preferida para fotografar". 
O caminho para lá chegar não é fácil - as estradas não estão em boas condições e a capacidade criativa da condução marroquina continua presente, somada às curvas e contra-curvas da parte final do caminho - e a primeira impressão não foi a melhor. Chegámos já bem de noite, com Chefchaouen cheia de pessoas e impossível de palmilhar com malas de viagem atrás sem atropelar ninguém. Comentámos, a brincar, que parecia uma mistura da Rua da Oura com a confusão de Óbidos durante a Feira do Chocolate.
Felizmente, quando o dia amanheceu trouxe-nos uma Chefchaouen mais calma e tão azul como tínhamos imaginado. E as expectativas foram largamente superadas.
Não é uma cidade com coisas para ver: o que há para ver está nela, nas ruas, nos becos, nas escadarias. E perdermo-nos por Chefchaouen é perder a conta ao número de fotografias, também. Só há uma coisa que têm que marcar no mapa: o miradouro no alto da colina (uma excelente dica do Gato Vadio Travel Blog).



Fez



Ainda não consigo, passados estes dias, definir Fez. A enorme Medina é incrível, os souks têm uma vida muito própria (e óptimas compras para fazer), encontrámos os vendedores mais simpáticos e amistosos de todos. A vista de Borj Nord, abarcando toda a Medina, é inesquecível. As tinturarias são completamente inéditas no nosso imaginário.
Mas foi também em Fez que tivemos as situações mais incómodas, as tentativas de enganar turistas, os arrumadores a saltarem para o meio da rua a forçar-nos a parar o carro. Foi em Fez que, no souk, nos arrancaram produtos das mãos e nos viraram costas, por querermos regatear. Nenhuma destas situações nos apanhou desprevenidos, mas deixaram-nos ligeiramente de pé atrás.


Marrocos foi, sem dúvida, uma enorme aventura. Um misto de sensações e experiências, de opiniões, de cheiros e cores. 
De uma forma geral, não temos uma opinião unânime sobre a viagem. Marrocos não é um país consensual. Não é um país fácil, que se conheça de ânimo leve. Mas é um país a que ninguém consegue ficar indiferente, seja porque o adora ou porque o odeia.

Tenho cá para mim que estamos perante um caso sério de "primeiro estranha-se, depois entranha-se", com a agravante de só termos estranhado no fim...

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