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Tudo começou com «E se fizessemos uma roadtrip pelo Norte?»

As férias de Agosto são, normalmente, reservadas para a família. Uma semana é certa no Algarve, com a família do João, e a outra semana tem tido destinos tão distintos como Marrocos ou Itália, com a minha família. Este ano, no início do ano, fizemos planos para estar quinze dias de papo para o ar nas praias algarvias. Mas depois veio o coronavírus e nós, que tínhamos tudo planeado até Outubro, tivemos de nos adaptar.

A semana de férias com a minha família este ano era em Malta e estava agendada para Junho. Não fomos a Malta, como é óbvio, mas fomos uma semana para o Carvalhal do Pombo, para a maravilhosa Casa Jasmim dos Poetas. A mudança de planos foi drástica mas não ficámos, de todo, tristes com o resultado. Até pelo contrário. Não podia ter sido mais perfeito.

Entretanto, tínhamos quinze dias de férias para ocupar. E mais quinze dias em que apenas eu estaria de férias e o João se manteria em teletrabalho, com a vantagem de poder trabalhar a partir de qualquer lugar. Já estão a imaginar no que deu, não já? Foi um mês inteiro a viajar por Portugal, a três, e foi mesmo muito bom. A ideia foi dele, demorou a "marinar" mas levou-nos por paisagens maravilhosas.

Iniciámos com a prometida semana no Alvor (eu sei que não é assim que se diz, mas está-me entranhado, peço desculpa), ainda com poucas pessoas e distanciamento de segurança nas praias. Seguimos depois até casa, onde trocámos de malas, e fizémos caminho até ao Norte. O plano? Percorrer toda a fronteira portuguesa do Norte, começando em Freixo de Espada à Cinta e terminando, pelo menos, em Viana do Castelo. Marcámos hotéis, deixámos margem de manobra para alterações nos planos e partimos com o porta-bagagem bem recheado (e num belo tétris). 


Nós não tínhamos dúvidas de que Portugal é o país mais lindo do mundo, vocês já o ouviram por aqui certamente. Também não tínhamos dúvidas de que íamos gostar muito desta viagem. Mas houve muita coisa que, pelo caminho, superou as nossas expectativas.

Primeiro, o Douro Internacional. A palavra que mais ouvi da boca do João nesse dia foi "brutal". E realmente é brutal, é bruta, é rude... e é maravilhoso. Não conseguimos decidir qual o nosso miradouro preferido. São todos de uma imponência que não há fotografia que consiga registar. E agora, que já conhecemos todo o percurso do Rio Douro em Portugal, podemos garantir que não há centímetro que não valha a pena.

Miranda do Douro parece um cenário de filme. Bonita, aprumada, especial. Com montras que nos transportam no tempo, drogarias antigas que têm a voz de Morrissey a sair dos altifalantes. Há qualquer coisa de encanto, em Miranda. E até os famosos burros nos encantaram.

Bragança pode não ser tão encantada, mas recebeu-nos muito bem. As ruas estreitas e fotogénicas dentro da muralha, o jardim onde já parecia ser Outono, um espelho de água perfeito nas pontes de Gimonde, a porta para o Parque Natural de Montesinho. Visitámos várias das aldeias tão bem conservadas do Parque, surpreendemo-nos com Vinhais e, claro, terminámos um dos dias com a caminhada no Parque Biológico de Vinhais.

Montalegre e o seu Castelo desenhado a aguarelas - mas tão bem conservado, lá no alto, as incríveis paisagens da Albufeira do Rabagão, Vilarinho de Negrões mais uma vez, tirada de um quadro. Caraças, apetece pendurar na parede. Íamos a meio, com aquele sabor agridoce de que "metade já passou" e não conseguíamos deixar de ficar encantados com o que víamos. 

O Gerês, que esteve muito na moda este ano - bom, é bom (no meio de tudo) perceber que os portugueses estão finalmente a descobrir Portugal! - passou-nos ao lado. Ou melhor, nós é que fizemos questão de fugir à multidão e escapar-nos a ele. Visitámos Pitões das Júnias, mesmo ao lado de Montalegre, e a zona da Barragem da Paradela (vistas lindas!) próxima do hotel onde dormímos. Depois, saltámos directamente para a zona de Castro Laboreiro. E Castro Laboreiro foi uma das surpresas mais agradáveis. Fora do "boom" de visitas que a maior parte dos locais do Gerês sofre, sabíamos ao que íamos, mas descobrimos muito mais. Felizmente, fomos bem acompanhados (depois contamos tudo!) e as paisagens que vimos encheram-nos o olho.

Melgaço foi, de toda a viagem, o destino que mais nos surpreendeu. A vila, tão bonita e cuidada, as vinhas tão lindas, os rios e as paisagens. O percurso marginal do Rio Minho deixou-nos apaixonados, mas foi no dia seguinte ao visitar o Marco Geodésico Nº1 de Portugal que ficámos, literalmente, sem fôlego. Não nos vamos esquecer do som da água, do cheiro a natureza, da paz do local. Íamos ver um marco geodésico, descobrimos uma das paisagens mais bonitas da viagem. E também comemos muito bem!

Monção, Valença e Vila Nova de Cerveira levaram-nos alguns dias a ver, graças ao mau tempo. Para terem noção, visitámos a Fortaleza de Valença quatro vezes até conseguirmos passear pelas ruas sem chuva. Já num ritmo de viagem mais lento, com o João a trabalhar, fomos descobrindo paisagens à hora de almoço e ao final da tarde, enquanto o dia ainda o permitia. Podemos assegurar que, em todas, um miradouro com vista para o Rio Minho é um postal assegurado.

Aqui pelo meio fugimos à fronteira e fomos até à bonita Ponte de Lima, que nos brindou com mais espelhos de água, um pôr-do-sol lindíssimo e a ponte, de noite, apesar de não estar iluminada como esperávamos, é bonita de se ver.

Caminha surgiu-nos com o mar, que já não víamos desde o Alvor, mas aqui numa versão mais... geladinha! As paisagens, essas, são verdes e incríveis. Conjugar um pinhal e uma praia é uma junção perfeita que, do ponto de vista dos aromas, devia ser feita mais vezes. A partir daqui, a quantidade de pessoas por quilómetro quadrado foi aumentando à medida que avançávamos pela fronteira Oeste abaixo. Moledo estava impossível de gente e de trânsito, Vila Praia de Âncora pouco melhor estava. Valeu-nos chegar a Viana do Castelo ao final do dia, com os turistas de "ida e volta" já de partida. Mas, também, chegámos tão ao final do dia que foi necessário prolongar os planos e ficar por lá, para no dia seguinte acordarmos cedo e percorrermos as ruas calmamente - com a sorte de, apesar de não haver Romaria, apanharmos várias vianesas pelo caminho. 

A partir daqui, dada por terminada a "Roadtrip Raiana", assentámos na terra da minha costela nortenha. E aproveitámos para descobrir nos arredores, Amarante e Gaia, em pequenas escapadinhas. 

Descemos, num fechar de olhos, até Ovar e daí, terminámos o mês de passeio em Travancinha, no delicioso (delicioso não é adjectivo que se use para descrever um alojamento, mas tudo nele é delicioso!) Chão do Rio que andávamos a namorar há anos. Foi um desfecho em perfeição...


Durante tudo isto, comemos MUITO bem. Mesmo muito bem. Portugal é lindo e tem uma gastronomia à altura. Não há país que concentre tudo, em tão pouco espaço. À excepção das excelentes refeições que fizemos em Melgaço, o nosso palato foi mais feliz em Trás-os-Montes do que no Minho. Não é problema da região, são gostos pessoais. E poderíamos ter feito um concurso sobre a melhor posta da viagem... acho que até sabemos a resposta! Ainda assim, as maravilhas da gastronomia portuguesa fizeram com que as calças custassem a fechar no final da viagem. Mais uns dias e podíamos, certamente, voltar para casa a rebolar pela auto-estrada fora.

Sim, porque tudo o que é bom tem um fim. E o nosso passeio tínha de terminar. Mas não sem antes um almoço num outro destino. Fechámos o périplo em Coimbra.


Tudo começou com "E se fizessemos uma roadtrip pelo Norte" e acabou com 2600 quilómetros a mais no conta-quilómetros, mais de três mil fotografias, quatro quilos a mais para cada um e muita certeza de que Portugal é o país mais lindo do mundo. Temos mesmo mais de 10 milhões de razões para ficar por cá!


Let's Run Away?

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