Tenho uma coisa para vos confessar: quando marcámos a viagem à Tailândia, quando começámos a fazer as primeiras reservas, não tínhamos planeado visitar o norte do país. Iríamos viajar para Bangkok, isso era certo, íamos dispensar Phuket por ser demasiado turístico e por Ele já conhecer e queríamos passar alguns dias a descansar na praia. Depois, começámos a pesquisar sobre os pontos turísticos e percebemos que havia algumas coisas que queríamos MESMO visitar e que, por sinal, ficavam no Norte. Depois de muita jigajoga - como vos contei aqui - conseguimos encaixar Chiang Mai e Chiang Rai no nosso percurso e foi a melhor coisa que podíamos ter feito.
Resumidamente, nos próximos parágrafos vamos falar-vos de algumas das experiências mais marcantes da nossa vida...
Chiang Rai
- Karen Long Neck Village
Estão a ver aquelas reportagens que vêem na televisão, quando são crianças, e nunca mais se esquecem? Lembro-me de ser pequena e as "mulheres girafa" despertarem imenso a minha curiosidade. Mas sempre foi algo que considerei que estava "do outro lado do mundo" e nunca coloquei, sequer, a hipótese de algum dia poder ver de perto esta realidade.
As "mulheres girafa", como são conhecidas, pertencem à tribo Karen Long Neck (lê-se "Corine"), originária da Birmânia (agora Myanmar). Usavam estes colares, inicialmente em ouro, para se protegerem dos ataques dos animais nas florestas. Hoje, os colares já não são de ouro, mas as mulheres continuam a usá-los por tradição. São, neste momento, refugiadas na Tailândia e a situação é um tanto ou quanto controversa. O governo dá-lhes autorização para ali viver, nas montanhas do Norte, e cobra a visita aos turistas. Lemos imensas opiniões sobre como estas mulheres são "obrigadas" a estar ali, como o dinheiro da visita vai para o governo e não para elas, como estão privadas de educação e cuidados de saúde, etc. A primeira preocupação que tivemos, relativamente a estas questões, foi realizar a visita com um guia local e garantir que, de alguma forma, as estávamos a ajudar. Aproveitámos também para trazer uma echarpe tecida por elas (é a sua única actividade) e outras recordações.
Foi muito importante realizar esta visita com a Vipa, a nossa guia, que conhece cada uma das mulheres, as suas famílias e que nos permitiu comunicar com elas. Percebemos que têm orgulho em continuar com esta tradição mas que, hoje em dia, retiram os colares se estiverem doentes e não deixam de recorrer ao hospital. Das várias crianças da aldeia, apenas vimos as mais pequenas, visto que as restantes estavam na escola. Muito sinceramente, todas as questões levantadas pareceram-me infundadas. A Ele continua a fazer-lhe confusão, por razões éticas, principalmente no caso das crianças.
Esta ternurinha de miúdo era o terror dos gatos da aldeia e fez, literalmente, "gato-sapato" deles. Derretemo-nos completamente a vê-lo brincar e houve um momento muito curioso, quando eu usei um "miau" para chamar o gato e ele parou ao perceber que, afinal, falávamos os dois a mesma linguagem (pelo menos no que toca a imitar gatos).
- Triângulo Dourado
Neste ponto, é possível ver três países diferentes, apenas divididos pelo Rio Mekong: Tailândia, Laos e Myanmar. Basicamente, é uma espécie de miradouro e também um recinto com um enorme Budha dourado que se vê bem de longe.
No nosso caso, a visita incluía um passeio de barco pelo rio Mekong, que nos permitiu pôr os pézinhos no Laos e ver, bem de perto, Myanmar. A vista para os três países, a partir do rio, é muito bonita e o vento fresco no barco soube-nos pela vida, no meio daquele calor sufocante. Não estranhem se, para apanharem o barco, os vossos passaportes ficarem na Tailândia. É um procedimento normal por lá e os passaportes são devolvidos imediatamente, à chegada.
A visita ao Laos, mais precisamente a Donsao Island, é a típica visita para turista ver. Aquele "pedacinho de terra" consiste num mercado de imitações (de óptima qualidade, devo dizer!) e produtos típicos como esta bebida que nos ofereceram (sim, provámos!).
Além de bancas com malas, carteiras, cintos de marca e electrónica e outras tantas com estas garrafas de licor, não há muito mais para ver em Donsao. Vale, sem dúvida, pela vista para a Tailândia e pelo passeio de barco pelos três países.
Depois deste passeio, almoçámos no espectacular restaurante do hotel Serene at Chiang Rai. A vista para o rio é lindíssima, provámos vários pratos típicos, bebemos sumos de fruta deliciosos e nunca antes tínhamos visto tantas borboletas por metro quadrado. Sentimo-nos uns privilegiados por esta experiência e foi, sem dúvida, um momento de pausa e descontração que não vamos esquecer.
- Wat Ron Khun (ou Templo Branco)
Este é um dos templos mais conhecidos da Tailândia, apesar de ser bastante recente - a sua construção foi iniciada em 1996. A obra é de um artista local, Chalermchai Kositpipat, que decidiu reconstruir o templo ali existente e financiar a obra com o seu próprio dinheiro.
O edifício é completamente branco e revestido a pedaços de vidro, que faz com que tenha um brilho resplandecente sempre que o sol incide nele.
A ponte que permite chegar ao Templo é conhecida como "O ciclo do renascimento". Antes de lá chegarmos, passamos por centenas de mãos que nos parecem puxar, numa representação do Inferno. Passando pela ponte, simbolizamos a resistência ao pecado, ao desejo e à tentação.
Além do Templo Branco, o recinto tem ainda outros edifícios. Este, dourado, faz um contraste marcante com o branco resplandecente do Templo e simboliza o corpo, enquanto o branco simboliza a alma.
Por estranho que pareça, é neste edifício dourado que estão localizadas as casas de banho públicas do Templo e, garanto-vos, são das mais espectaculares que já vi.
Por ali, é tudo luxuoso e "em grande". Até as bananas:
Depois de visitar Chiang Rai, seguimos para Chiang Mai, onde dormimos. A viagem (cerca de três horas de carro) foi feita com a Vipa e o Sunny, numa carrinha super confortável. Ficámos depois alojados no CH Hotel, de que já vos falámos aqui.
Chiang Mai
Chiang Mai é uma zona completamente apaixonante e com muito para explorar. Tivemos muita pena de não ficar por aqui mais dias, pois havia muito mais para ver e fazer. Daquilo que conseguimos encaixar no nosso roteiro, recomendamos:
- Elephant Jungle Sanctuary
Muitas pessoas não sabem, mas os elefantes não têm uma estrutura que lhes permita carregar pesos às costas, como têm, por exemplo, os cavalos. Por isso, passeios com turistas às costas durante dias inteiros causam danos irreparáveis nas suas colunas. Além disso, por ser um animal tão característico deste país, há imensas empresas que apresentam espectáculos de elefantes, entre outras coisas. Muito sinceramente, toda esta indústria nos causa impressão e quisemos garantir que nos afastávamos deste tipo de negócio. Nas nossas pesquisas, descobrimos dois santuários de elefantes - o Elephant Jungle Sanctuary e o Elephant Nature Park -, que recebem elefantes maltratados ou com lesões e tratam deles livremente na natureza, permitindo que as pessoas interajam e cuidem deles durante a sua visita.
Sendo eu completamente apaixonada por animais e sabendo que a nossa visita era uma forma de ajudar estes santuários a continuar o seu trabalho, não podíamos deixar passar esta oportunidade. Escolhemos, por recomendação do Joy, o Elephant Jungle Sanctuary para um programa de uma manhã de interacção. O preço estava incluído no pacote que comprámos ao Joy, mas parece-me que custa entre 50,00€ a 60,00€ por pessoa e inclui muitas festinhas, alimentação, banho de lama e banho no rio com os elefantes.
Estávamos muito curiosos com esta experiência e não podíamos ter sido mais arrebatados por ela. A interacção com os elefantes é tão carinhosa, tão ternurenta... Nunca pensamos, quando estamos a falar de animais de cerca de três toneladas! É claro que muitos destes animais, pelo seu passado, estão habituados a interagir com pessoas. Mas mesmo os mais pequenos, que já nasceram neste parque, são muito amigáveis (principalmente se tivermos comida para lhes dar).
Nota-se, na interacção com os tratadores, o à vontade e a confiança que têm uns nos outros: animais e humanos. E é bonito de se ver.
Esta foi "A" experiência da viagem. É difícil traduzir em palavras o que sentimos e a imponência deste contacto. Temo, se continuar a explorar o assunto, que me apareçam umas lagrimitas no canto do olho.
Acabámos a manhã no rio, a tomar banho com os elefantes, e foi vê-los felizes a abanar as orelhas. Tão bom...
- Chiang Mai Orchid Jade Factory
Da parte da tarde, o plano era visitar o principal templo da cidade. Mas, pela primeira vez na nossa viagem, choveu torrencialmente durante cerca de meia hora. Muito despachada, a Vipa arranjou-nos logo entretém e levou-nos a uma fábrica de Jade, em que (gratuitamente) é possível conhecer as oficinas e ver como esta pedra é esculpida.
Aprendemos imenso sobre a pedra, as suas diferentes tonalidades (e diferentes valores, consoante a raridade) e vimos vários escultores a trabalharem.
Como é óbvio, a fábrica tem também uma loja onde é possível comprar uma recordação, desde os 15,00€ até aos 20.000,00€, mais coisa menos coisa.
- Wat Pra That Doi Suthep
É o principal templo de Chiang Mai, situado nas montanhas. De facto, Doi Suthep é mesmo o nome da montanha em que se encontra. Diz-se que o templo foi construído no sítio em que o elefante branco do Rei morreu.
Chegámos lá de carro, com a Vipa e o Sunny, mas também é possível recorrer aos autocarros que partem regularmente do centro de Chiang Mai. Para subir ao templo, existem duas hipóteses: uma enorme escadaria, ou um funicular. Optámos por subir pelo funicular (30 bahts) e descer pela escadaria, e pareceu-nos a escolha ideal.
Tal como a Tailândia nos habituou, todo o recinto do templo é muito dourado, muito colorido, muito brilhante. Todos os edifícios são riquíssimos em detalhes e a nossa atenção é constantemente puxada para diferentes pormenores. Inesquecível é, sem dúvida, o contraste da stupa (a cúpula dourada) no céu.
Mediante uma contribuição para os monges do templo (20 bahts), fomos benzidos por um monge e foi-nos oferecia uma pulseira, feita pelo próprio. Caso queiram fazer o mesmo, é muito simples: basta entrarem no recinto, descalços, e ajoelharem-se em frente ao monge. Mas lembrem-se, não podemos olhá-lo nos olhos e as mulheres não o podem tocar.
E se já tínhamos ficado maravilhados com o templo, mais maravilhados ficámos com a varanda panorâmica que nos permite ver toda a cidade de Chiang Mai.
Saímos do Templo pela escadaria de Naga, a cobra mitológica que protege Budha. À saída, encontra-se uma feirinha de comida e artesanato que vale a pena a visita, pela sua genuinidade.
- Mercado Nocturno
Tivemos a sorte de ficar alojados mesmo ao lado do mercado noturno de Chiang Mai e isso permitiu-nos visitá-lo mais do que uma vez. Infelizmente, não aproveitámos tanto como queríamos devido ao peso das mochilas e à limitação de peso nos voos internos que ainda íamos realizar... Mas foi o local em que encontrámos artesanato mais genuíno em toda a viagem. Há muito para ver, muito para comprar e os preços são óptimos. Dá sempre para regatear, claro (não deixem de o fazer), mas os preços já são bastante bons tendo em conta os outros locais em que estivemos.
As bancas de venda estendem-se por vários quarteirões, em espaços cobertos e também em plena rua. Há ofertas para todos os gostos, acreditem, e é muito difícil resistir a tudo.
- "The House" Restaurante
Para sair um bocadinho do habitual na Tailândia (já vos contei umas mil vezes que Ele é esquisito com a comida) e por recomendação da I., experimentámos o restaurante The House. Por ser um pouco longe do nosso hotel, utilizámos o Uber para lá chegar.
O espaço é muito engraçado e a comida é realmente muito boa. Os preços são, claro, mais elevados do que é normal na Tailândia. Mas, ainda assim, foi uma refeição mais em conta do que faríamos em Portugal.
Gostávamos, sem dúvida, de ter tido muito mais tempo tempo para explorar Chiang Mai. É uma cidade amorosa e muito mais tradicional, com muito artesanato, muita gente pelas ruas. É isso e as saudades dos maravilhosos Khao Taen, estes biscoitos de arroz, que a mãe da Vipa nos fez... deliciosos!