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Roteiro: Havana Nueva (1 dia)


No segundo dia que reservámos para Havana, dedicámos o nosso percurso aos pontos que se encontram fora da zona histórica - a chamada Habana Vieja. Fizemos todo o percurso num lindíssimo e bem conversado carro clássico dos anos 50, azul céu, o mesmo carro que nos viria a acompanhar durante todo o nosso "recorrido" em Cuba. Foi também neste dia que conhecemos o espectacular Basílio, o motorista que nos acompanhou ao longo de todo o percurso e que se mostrou uma óptima companhia, conhecedor do país como a palma da sua mão e com um sentido de humor extraordinário. Mas o Basílio, como ele próprio diz, não é um guia turístico... E em Havana Nueva fomos acompanhados de Daily, a mesma guia que tinha feito connosco o percurso a pé por Habana Vieja (podem ver o roteiro aqui). 



Mais uma vez, digo-vos: não somos nada fãs de percursos turísticos organizados e impessoais. Gostamos deste registo, de conhecer as cidades com pessoas locais, que nos mostram o que há de melhor - e, por vezes, o que há de pior também - como mais ninguém sabe fazer e com a informalidade que nos faz parecer que andamos a passear com amigos. Em Cuba, graças à fantástica equipa do Yoander e à simpatia característica das suas gentes, foi assim que nos sentimos durante toda a viagem. 

Feitas as apresentações - digam lá que o carro não tem muita pinta? - passemos ao nosso percurso. Começámos o dia no Barrio Miramar, uma das principais zonas residenciais de Havana. Aqui, não há prédios altos nem casas modestas: há grandes palacetes e moradias, com jardins cuidados e gradeamentos trabalhados. Passeiem-se pela Quinta Avenida (que copiou o nome à de Nova Iorque, pois claro!) e observem os contrastes. Em tempos, foi o bairro onde viveu toda a classe alta cubana e reúne, ainda, um grande número de embaixadas. É o caso da Embaixada da Rússia, abaixo na foto, com uma imponente e inusitada torre quadrada, um símbolo da ostentação da URSS nos tempos em que foi construída.



Seguimos, depois, para o Barrio Jaimanitas. Estamos agora num bairro mais humilde, mas com um enorme peso histórico: era o bairro de Fidel Castro. Diz-se que a última meta de vida de Fidel foi construir um campo de futebol para as crianças do bairro, um objectivo alcançado duas semanas antes de falecer. O bairro é também conhecido como Fusterlandia, graças a Jose Fuster, um artista local que dedica os seus dias a embelezar o bairro com pequenos pedaços coloridos de mosaicos, Gaudí style. O bairro é, segundo o artista, uma homenagem ao próprio Gaudí, e atinge o seu expoente máximo na casa do próprio Fuster. Este é um daqueles segredos de Cuba que raramente aparece nos guias turísticos, mas que vale a pena a deslocação. Mais não seja, pelo exotismo da ideia e pela vida que o artista está a dar a um bairro modesto e simples, desde a paragem do autocarro até à casa do médico.




"Ser culto es el único modo de ser libre"


À saída do bairro, grandes vedações e segurança militar identificam-nos a casa de Fidel Castro: não se vê mais do que mato, árvores e verde, protegidos por uma vedação imponente, mesmo no final da Quinta Avenida.
Dirigimo-nos, durante alguns minutos, para próximo ponto que é, sem dúvida, um dos mais bonitos e mais tristes da nossa viagem a Cuba. Estamos no Parque Almendares, onde corre o rio com o mesmo nome. Um enorme espaço verde na zona oeste da cidade com um anfiteatro, zonas de piquenique e caminhos por entre a vegetação. Seria um local idílico, não fosse as águas do rio estarem completamente poluídas, nauseabundas e não se poderem tocar, graças às descargas das farmacêuticas existentes nas proximidades. Também no parque há vestígios de lixo, principalmente restos de rituais (Santeria?), comida, animais mortos, etc. que por ali foram ficando. E chamando os abutres. Hoje em dia, são a grande atracção do parque: dezenas e dezenas de abutres que esperam, pacientemente, pela sua próxima refeição e que estão demasiado habituados ao convívio com humanos para se darem ao trabalho de fugir quando nos aproximamos.





Em direcção à Praça da Revolução, passamos no Cemitério Chino. Mais uma marca da passagem - e ocupação - dos chineses em Havana. É ponto turístico em muitos roteiros e, apesar da hora matinal, já estava cheio de curiosos. 
Na Praça da Revolução, algumas das imagens mais cliché de Havana. De um lado a enorme torre com 109 metros de altura, a que é possível subir de elevador para ver a vista panorâmica e a não menos enorme estátua de José Martí, o pensador cubano citado um pouco por toda a parte. Fazem parte do Memorial a José Martí, pelo seu papel no comunismo cubano. Do outro lado, os prédios com as famosas Homenagens a Che Guevara  (acompanhado da sua frase "hasta la victoria, siempre") e ao menos conhecido Camilo Cienfuegos (no Ministério das Comunicações, acompanhado da famosa frase "vas bien, Fidel", um trecho de um dos seus discursos).



Só a praça, por si só, merece a visita. É uma das maiores praças do mundo, com setenta e dois mil metros quadrados. Quando fica cheia, alberga cerca de um milhão de pessoas - dez por cento da população cubana! 

Atravessando o centro da cidade e o túnel que liga Havana a Havana Leste (a zona operária), mesmo no final do Malecón, chegamos ao outro lado da baía. Lá, temos o Cristo de la Habana (acesso livre), uma enorme estátua de Cristo que observa e abençoa a cidade de Havana, do alto dos seus vinte metros de altura. Leva-nos lá, principalmente, a vista panorâmica sobre a cidade. É uma das imagens mais bonitas de Havana, mas também das mais contrastantes. 



Lado a lado com o Cristo de Havana encontramos dois edifícios de interesse histórico: de um lado, a casa onde Che Guevara viveu nos três meses enquanto comandante do pelotão de fuzilamento; do outro, a Fortaleza de San Carlos de La Cabaña, outro dos locais com uma vista privilegiada sobre a cidade.



No primeiro dia, comentámos com Daily que tínhamos interesse em comprar algumas recordações de Cuba para trazer para Portugal. Ficámos até surpresos, pela positiva, com os preços que encontrámos em algumas lojas de Havana Vieja. Sabiamente, a Daily disse-nos para esperar pela Feira de San Jose, onde nos levou. A feira fica nos Almacenes San Jose, perto da zona portuária: um enorme pavilhão, cheio de bancas repletas de todo o tipo de artesanato cubano que possam imaginar. Neste labirinto de bancas encontrámos alguns dos melhores achados de toda a viagem, e imensa variedade. Se quiserem comprar quadros, roupa, ímanes, canecas, artesanato em madeira, bijuteria, etc., este é o sítio! 

Depois de uma pausa para almoço no Restaurante Ideas, com mais moros y cristianos, seguimos para uma visita ao Hotel Nacional, o luxuoso hotel que se situa na zona final do Malecón, no Barrio Vedado. É possível entrar, misturarmo-nos com os hóspedes e desfrutar dos jardins com vista para a baía de Havana, o Malecón e a cidade. 



Terminando o passeio pelo Malecón, encontramos monumentos que retratam momentos marcantes da história de Cuba, desde um memorial às vítimas da explosão do barco que originou a luta cubano-hispanica-norte-americana a uma estátua erguida para em memória de um longo processo de luta pela paternidade de um casal dividido entre Cuba e os E.U.A. Ao fundo, semi coberta por inúmeras hastes de bandeira (dizem que foi de propósito...) temos a Embaixada dos E.U.A., inaugurada por Barack Obama na sua visita a Cuba. Agora, na era Trump, a Embaixada mantém-se mas apenas com o funcionamento mínimo.


Terminámos a tarde sentados na varanda de Norma, a simpática cubana que nos abriu as portas de sua casa e nos alojou nas noites que passámos em Havana, enquanto assistíamos ao pôr-do-sol. Sem os luxos de um hotel, completamente desnecessários, mas com esta vista soberba sobre a cidade:


Para a noite reservámos espaço na agenda para aguardar na fila por um dos restaurantes mais famosos de Havana: Habana Blues. Tal como o nome indica, não estamos num filme, mas tudo é muito cinematográfico. E entrar neste restaurante é uma experiência por si só. Somos atendidos por um staff que, mais do que simpático, interpreta - todos são actores em busca de ascensão e estão ali não só para nos servir o jantar, como para representar um papel. Em cada sala do restaurante, há uma decoração temática diferente, música ao vivo ou insólitas intervenções artísticas. No meio disto tudo, temos comida típica com um toque de modernidade, bem saborosa por sinal. Porque a história de se comer mal em Cuba foi derrubada: em Cuba come-se bem, muito bem, principalmente se fugirmos dos restaurantes turísticos.




E neste restaurante comemos tão bem que resolvemos experimentar, na noite que passámos em Havana antes de apanhar o avião de regresso a casa, um outro restaurante semelhante. Desta vez não há filas à porta e podemos optar por uma de duas hipóteses: queremos jantar no Razones, ou no Motivos? O restaurante chama-se Razones y Motivos e tem o mesmo dono (e a mesma "cabecinha pensadora") por detrás do Habana Blues. Temos novamente comida típica cubana com um toque especial, mas também outros pratos internacionais. A ropa vieja que comemos estava deliciosa, e foi uma óptima forma de nos despedirmos desta cidade e deste país que nos conquistou em todos os momentos.



Na próxima publicação prometo falar-vos de Cienfuegos e também de comida, novamente, ou não fosse por lá que encontrámos o melhor prato cubano que experimentámos...

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